GUSTAVO HENN - PROFISSAO BIBLIOTECÁRIO


Tive o enorme privilégio de ter participado em 2011 do 1° BIBLIOCAMP, evento que reuniu uma turma de pessoas motivadas em muitos aspectos da vida e, em especial por seus trabalhos na área Biblioteconômica. O Gustavo Henn, foi também um dos participantes e não pude deixar de perceber o quanto de sensibilidade e comprometimento ele tem por seu trabalho. Bibliotecário e Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB, atua na Biblioteca da Procuradoria Regional do Trabalho da 13ª Região e é editor do Blog Biblioteconomia para Concursos. Já escreveu vários livros e tem se destacado por ministrar aulas presenciais e online. Hoje, Dia do Bibliotecário, posto sua entrevista na seção Bibliotecários Fora de Série. Gustavo Henn (nessa foto que é pura ternura), estudou com o grande ícone Edson Nery da Fonseca e uma das coisas que adora fazer é ajudar o próximo...

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1. Conte-nos onde nasceu, cresceu e como foi a sua relação com a leitura nos primeiros anos.

Eu nasci e me criei em Rio Doce, Olinda, Pernambuco. É o bairro mais populoso da cidade, e isso me acompanha até hoje. Morei em Rio Doce até os 20 anos, depois morei em Casa Caiada, também em Olinda, e depois em João Pessoa, onde vivo desde 2005. Meu contato com a leitura vem desde cedo, minha casa sempre teve muitos livros, meus pais gostam bastante de livros, especialmente, para minha sorte, de dicionários e enciclopédias, entre outros livros de referências. Sempre teve guia disso, almanaque daquilo, atlas geográfico lá em casa. Também lembro de histórias que meus pais contavam pra mim quando criança. Os primeiros apelidos que recebi na vida vieram dos títulos de dois livros que eles liam pra mim: O Gatinho Perdido e O Gigante Preguiçoso.

2. Quando você teve acesso a uma biblioteca pela primeira vez?

Lembro vividamente de uma ida à Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco quando eu tinha uns 9 ou 10 anos. Era em busca de algo sobre o Código de Hamurabi e meu pai explicou o que era e a atendente me trouxe a Barsa. Fiquei decepcionado pois a Barsa eu tinha em casa. Depois disso, lembro que na escola onde eu estudava tinha uma biblioteca que vivia fechada, entrei lá algumas vezes, mas só para entrar mesmo. Bibliotecas sempre me encantaram.

3. O que lhe motivou a fazer Biblioteconomia?

Eu sempre gostei de livros. Minha mãe conheceu algumas bibliotecárias e vez ou outra dizia que eu seria bibliotecário, até que chegou no terceiro ano e eu só sabia que gostava de ler e de escrever, mas era muito tímido para ser jornalista ou fazer letras e ser professor, então fui fazer biblioteconomia, vai que esse negócio dá certo?!

4. Que disciplina mais gostava quando era estudante?

A primeira disciplina de biblioteconomia da qual gostei foi Fontes de Informação. Era muito legal ver que eu era realmente bom em encontrar verbetes em enciclopédias e que aquilo era estudado na universidade! Mas as disciplinas que eu mais gostei foram a de Serviço de Referência, com a Professora Gilda Verri, que foi uma espécie de "guia" para mim, foi a professora que me apresentou pessoalmente ao Edson Nery da Fonseca, e a disciplina História do Livro e da Biblioteca, com a professora Silvia Cortez, que é uma pessoa encantadora e apaixonada por livros, ela me mostrou um outro Monteiro Lobato, além de Calvino. Foram as disciplinas que mais me marcaram.

5. Que tipo de biblioteca tem mais afinidade (escolar, pública, universitária, especializada, etc)

Eu já atuo em bibliotecas jurídicas há mais de 10 anos, contando estágio. O melhor de bibliotecas especializadas é que você conversa com pessoas que realmente entendem do que estão falando, então você aprende bastante. Em biblioteca universitária não tive uma experiência legal, muitas vezes eu tinha que ensinar o assunto ao usuário - já cheguei até a empresar livros meus para os alunos pois a biblioteca era ruim. Sinto falta de nunca ter trabalhado em bibliotecas públicas ou escolares, deve ser uma experiência única e infelizmente ainda não vivi.

6. Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional.

Entrei na universidade em 1997 e só sai em 2003. Foram 7 anos na universidade, bem aproveitados. Reprovei algumas disciplinas, mas o que me atrasou mesmo foram as greves do período FHC e o serviço militar (que foi uma experiências fantástica). Eu divido meu período acadêmico entre antes do serviço militar e depois. Como entrei com 17 anos na universidade, tudo era um deslumbre pra mim. Então eu não me preocupei muito em estudar, ainda estava impressionado com aquele mundo universitário. E aí reprovei disciplinas, fiz estágio e depois abandonei, depois vieram as greves e apareceu o serviço militar. No início não ia servir, mas depois bateu a vontade e eu fiquei. Quando retornei já estava um pouco mais maduro e sabia que teria que me formar o quanto antes, não poderia brincar mais. E foi o que fiz. Na faculdade, fiz parte junto com Karine Vilela e Uiraquitan Coutinho (infelizmente já falecido, mas um bibliotecário genial, que me influenciou bastante, foi quem me apresentou a Borges e a Edson Nery da Fonseca), do Grupo de Estudos em Biblioteconomia, que tinha como objetivo discutir assuntos da biblioteconomia que não eram tratados na sala de aula. Nos reuníamos aos sábados e era engraçado pois em algumas reuniões só fomos nós três mesmo. Mas foi um aprendizado importante. Devo a isso tudo o que veio depois na minha trajetória profissional. Fiz dois anos de estágio no TRF em Recife, com a excelente bibliotecáris Isis Almeida Alvarenga, onde aprendi bastante sobre atender usuários exigentes e CDU. Depois que saí de lá, trabalhei 6 meses na Faculdade de Direito do Recife, que tem uma biblioteca belíssima e bem antiga, e depois onde estou hoje, na biblioteca da Procuradoria Regional do Trabalho da 13 Região, na Paraíba, que é especializada em direito do trabalho. O legal de trabalhar em biblioteca especializada é que você lida com usuários mais exigentes, que conhecem bem os livros e os autores. Estou gostando bastante. Ao longo disso tudo publiquei livros, faço parte da ExtraLibris, o blog, aulas presenciais e à distância. Estou sempre em atividade.

7. Que conselho daria para uma pessoa que deseja seguir a carreira bibliotecária?
Para alguém que ainda não entrou na universidade, eu diria que a biblioteconomia é uma profissão com diversas possibilidades, uma delas está dentro do seu perfil. Para mim, ser bibliotecário é gostar de ajudar os outros, então se você tem esse perfil, você vai gostar de biblioteconomia. Para quem está na universidade, procure ir além dos muros universitários. Quanto mais estágios fizer melhor. E não deixe de frequentar os encontros de estudantes, estes sim são verdadeiros aprendizados.

8. Em que momento você desmistificou o fazer bibliotecário, haja vista que a maioria das pessoas ingressa na universidade acreditando que o ambiente de trabalho está condicionado somente a livros e espaços de bibliotecas?

Como eu não sabia ao certo o que era biblioteconomia antes de entrar na faculdade, então não fazia muita ideia do que um bibliotecário faz. Hoje, porém fico muito preocupado quando os profissionais e estudantes não querem trabalhar com livros e nem em bibliotecas. Não dá pra entender.

9. Você acha que uma pessoa que escolhe essa profissão tem que gostar de ler?
Claro. Tem que gostar de ler e saber ler. Talvez não precise ser um leitor voraz, mas é preciso ser capaz de ler e compreender o que está sendo lido. Do contrário não será capaz de ajudar o usuário.

10. Qual a biblioteca mais fantástica que já visitou e a que sonha ainda conhecer?

A Biblioteca Nacional foi a que mais me impressionou pelo volume. Só estive nos armazéns uma vez mas lembro até hoje. Quem sabe eu volto um dia. E tenho vontade de conhecer a Biblioteca do Senado, que é uma biblioteca a qual recorro com frequência e que ainda não conheci.

11. Dentre os livros que você leu, cite um e recomende.
Um só? Por que não 100? Vários livros marcaram minha vida e eu me pego em situações que eles voltam à mente. Já fui um leitor razoável, mas de uns anos pra cá tenho lido apenas não-ficção e literatura específica de biblio e Ciência da Informação. Já que pediu um só, cito um de literatura brasileira, o "Não verás país nenhum", de Ignacio Loyola Brandão. É o Brasil que vivemos hoje, só que ainda pior. E no meio disso tudo acontece a humanidade. Um livro inteligente, e que tem algumas versões comemorativas muito bonitas. De poesia eu cito o "Dentro da noite veloz", de Ferreira Gullar. É um livro que diz tudo, poesia em mais alto nível. Gullar é o meu poeta favorito. Pra citar mais um, tem a autobiografia de Edson Nery da Fonseca, "Vão-se os dias e eu fico". É um livro belíssimo, em primeira pessoa, de um personagem brasileiro que conviveu com toda a nata da nossa intelectualidade do século passado. E que por acaso calhou de ser bibliotecário. Bom, acho que está bom de livros.

12. Qual sua opinião sobre o contexto atual da profissão?

A profissão vive um momento muito positivo em todos os aspectos, especialmente no Brasil. É uma profissão que não falta emprego, o que é fundamental em um país pobre. Ou seja, como ofício, como ganha-pão, ela cumpre muito bem seu papel. Mas além disso, temos os nossos conhecimentos talhados por séculos. Nossas ações são exigidas pela sociedade. É cada vez mais comum conversar com médicos, advogados, empresários que empregam ou contratam serviços de bibliotecários. Estou muito animado com tudo isto.

13. Como você vê a atuação da biblioteca pública de sua cidade?

João Pessoa vem passando por um processo positivo de cultura. Nos últimos anos foram inauguradas e reabertas algumas bibliotecas, o que deu uma nova vida à cidade. Especialmente para os concurseiros que precisam de espaço para estudar, as bibliotecas públicas aqui estão sendo bastante úteis.

14. Há algum bibliotecário (a) que você considera fora de série?

Tenho conhecido cada dia bibliotecários e bibliotecárias que fogem do comum. Mas fora de série acho que o Edson Nery da Fonseca, pelo seu comprometimento com a profissão em todos os sentidos, e pelo legado que deixou, merece um lugar de maior destaque.

15. Do que mais gosta na sua profissão?
De ajudar o próximo. Essa é verdadeira grandeza admirável da biblioteconomia. O bibliotecário é o servo dos servos, é aquele que se contenta em passar o livro que vai ajudar tanto o analfabeto a ler quanto ao cientista desenvolver a cura para alguma doença. Cumprir essa missão diariamente me faz muito feliz.

16. Fique a vontade para fazer seus comentários finais.

Agradeço a oportunidade. Acho que essas entrevistas são importantes para nos conhecermos melhor, somos muitos e o Brasil é enorme, então temos que nos caçar e seu blog agora caça bibliotecários também :D

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