MIRLENO LÍVIO MONTEIRO: PROFISSÃO: BIBLIOTECÁRIO


Certamente quem teve a oportunidade de assistir a uma aula do professor Mirleno Lívio Monteiro de Jesus ou mesmo trocar uma ideia com ele, sabe o quanto pode ser instigante estar ao seu redor, seja por sua simpatia e ainda pela competência com que desenvolve seu ofício. Eu tive a oportunidade de conversar muitas vezes com Mirleno quando atuávamos em 2010 como professores do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Amazonas - UFAM. As horas pareciam passar bem mais rápido quando nos encontrávamos e era sempre muito produtivo. Mirleno atualmente é professor Auxiliar da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e mestrando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira (PPGEB) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Nessa entrevista, ele nos conta muito de sua trajetória de vida, grande parte ligada à Biblioteconomia. Mirleno é um ser humano querido por muitos e um Bibliotecário Fora de Série.

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1. Conte-nos onde nasceu, cresceu e como foi a sua relação com a leitura nos primeiros anos.

Nasci no município de Caxias, no interior do Estado do Maranhão. Sou o quinto, do total de oito filhos, rebentos de uma grande mulher de nome Leonisia Monteiro, professora de História aposentada. Uma mulher aguerrida e incansável no processo de educação dos filhos. Cresci em um lar cristão e, desde o nascimento, fui conduzido à igreja evangélica, de denominação presbiteriana, onde foi-me apresentado o significado e o sentido da vida: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo”. Foi na congregação cristã que tive acesso às primeiras letras e à leitura de mundo. Era um mundo de regras e de um movimento dialético de liberdades e proibições. A leitura da Bíblia era hábito cotidiano, acontecia sempre aos domingos à tarde, e este era um hábito “sagrado”, ciclos de leitura. É...era assim mesmo que chamávamos aquelas reuniões dominicais onde cada um lia um trecho da sagrada escritura. Mesmo sem ainda saber decodificar aqueles signos, participávamos, eu e outras crianças da rua onde morávamos, daquelas sessões de leitura. Digo, participávamos, porque mesmo sem saber decifrar aqueles códigos, acompanhávamos a leitura daqueles que sabiam ler. Ficávamos em silêncio, acompanhando atentamente cada palavra, cada gesto, cada interpretação, cada explicação. Essas sessões dominicais de leitura percorreram toda minha trajetória de vida. Da infância à juventude, o ritual religioso foi marcado por mensagens de fé, amor a Deus e ao próximo, doação, serviço, respeito, honestidade e companheirismo. Com o acesso à educação formal, a escolar, percebo, hoje, que eu estava mergulhando em um mundo de possibilidades que a escola me proporcionaria. O convívio com o diferente, o contrário, o provável e o improvável poderia ser importante para um novo processo de mudanças que estavam a caminho. Para essa nova fase de minha vida, a leitura de mundo e da palavra escrita seriam a mola que impulsionariam uma (re)descoberta de universos (im)possíveis. Cresci cercado por livros. Minha mãe, na condição de professora, sempre se preocupou em comprá-los. Quando menos esperávamos, lá vinha ela com livros e mais livros. Muitas enciclopédias e dicionários eram comprados na porta de casa mesmo. Os vendedores já sabiam que, ao bater à porta para oferecê-los, era garantia certa de venda. Aquilo que pra eles poderia ser apenas um produto comercial, prá minha mãe era manancial de informações e garantia de crescimento. Isso mesmo. Ela apostava todas as fichas na leitura e na sua possibilidade de mudança no nosso processo de vida. A imagem de minha mãe com livro em punho, lendo para preparar suas aulas, faz parte de um cenário indefectível. Algo mágico. Havia, em nossa casa, uma grande biblioteca. Muitos colegas da escola sempre se dirigiam pra lá no intuito de fazerem suas pesquisas, pois o acervo de livros didáticos e paradidáticos era imenso. Hoje digo que aquela era uma verdadeira biblioteca comunitária. Escutei várias vezes a seguinte frase: “vamos na casa de dona Leó que lá tem uma biblioteca onde vamos achar o que queremos pra nossas pesquisas.” A biblioteca de D. Leó era referência e se fez presente na história de vida de muitas pessoas da cidade. Da criança ao adulto, havia sempre um livro, uma enciclopédia e um dicionário para consultar, ler e fazer pesquisa. Assim cresci. Eu era uma ilha cercado de livros por todos os lados. Um universo de possibilidades me rondando o tempo todo e, mesmo sem me dá conta, aquele cenário provocava, em mim, sensações as mais avassaladoras possíveis. A educação não formal me conduziu a uma escolarização mais consistente. Nesta, muitas certezas se diluíram e transformaram-se em incertezas inquietantes. Por outro lado, muitas incertezas tornaram-se campo aberto de possibilidades a serem perseguidas e alcançadas. Acredito que o acesso à leitura e sua realização constante foi a responsável por esse turbilhão de sensações.

2. Quando você teve acesso a uma biblioteca pela primeira vez?

Meu primeiro contato com uma biblioteca deu-se em casa mesmo. Essa afirmação pode até parecer estranho para alguns, mas é perfeitamente explicável. Minha mãe possuía uma grande biblioteca com um acervo formado por livros didáticos, paradidáticos, dicionários e enciclopédias. Lembro, inclusive, de um globo terrestre que ficava no alto da estante superior e servia de pesquisa das aulas de Geografia. Fotografias eram abundantes. Havia uma sistematicidade na organização do acervo. Era algo simples e intuitivo e, no momento, não sei por qual motivo, era eu mesmo quem organizava os livros da biblioteca. Algumas vezes era uma organização feita por obrigação, mas na maioria delas, era uma atitude voluntária. Eu não gostava de desorganização. O acervo tinha que estar organizado. A biblioteca ficava na sala onde se recebiam as visitas. Era a principal parte da casa e, por isso, deveria estar sempre impecável. Quem entrasse teria que ver a biblioteca. Era um monumento!

3. O que lhe motivou a escolher o curso de Biblioteconomia?

Posso dizer que a resposta a essa pergunta é um tanto quanto invertida. Não fui eu que escolhi a Biblioteconomia. Foi ela quem me escolheu. Creio que isso tem a ver com aquela frase que diz: “tudo conspira!”. É isso mesmo. Levando em consideração o que já foi anteriormente narrado, posso afirmar que a Biblioteconomia sempre me perseguiu. Ela colou em mim de tal forma que nada foi capaz de me separar dos planos que ela já traçava. No entanto, o laço acadêmico no qual ela me envolveu refere-se aos idos de 1988 quando prestei vestibular para o curso de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, na Universidade Federal do Maranhão. Recuando um pouco na história, gostaria de salientar que, grande parte de minha formação básica deu-se no município de Caxias do Maranhão. Em 1987 saí do interior rumo à capital maranhense, São Luís, a fim de concluir o segundo grau (assim denominado na época) e, assim, preparar-me melhor para o exame vestibular. Fiz o terceiro ano no Colégio Batista Daniel de la Touche e, em janeiro de 1988 fui prestar o exame de acesso ao Ensino Superior. Fiquei muito triste quando, ao escutar pelo rádio o resultado do citado exame, não ouvi falarem meu nome entre os classificados para as vagas disponíveis. Chorei demasiadamente. Senti-me um fracassado e a pessoa mais “burra” da face da terra. Soube no dia seguinte que havia sido aprovado mas não classificado. Frustrado e desorientado, voltei à terra natal. Dias depois, já de volta a Caxias, estava eu sentado debaixo de uma goiabeira, no quintal de minha casa, em uma tarde de sol causticante, quando escuto o telefone tocar e, de imediato, minha mãe a atender a chamada. Ao final da conversa com o interlocutor daquela chamada, minha mãe desliga o telefone e, sob o efeito de uma forte emoção, grita desenfreadamente: “meu filho! a universidade está te chamando para assumir uma vaga! Você foi aprovado! Você passou!”. Fiquei atônito. Saí correndo pela casa e pelo quintal (já nem sentia que o sol era tão causticante) tomado por uma felicidade sem tamanho. No dia seguinte, ainda em estado de êxtase, fui prá rodoviária e embarquei de volta a São Luis. Meus irmãos mais velhos já moravam lá. Chegando na capital, lá estava eu, no dia seguinte, na UFMA, para fazer minha matrícula. Entretanto, a funcionária me disse que não havia vaga para o curso pretendido: Comunicação Social. Percebi, então, nesse momento, que eu estava concorrendo às vagas excedentes. Sendo assim, pensei rapidamente, “quero saber qual curso poderia ser matriculado”. Foi aí que a funcionária me disse: “temos aqui dois cursos com vagas disponíveis. Um é Educação Artística. O outro é Biblioteconomia.”. Sem saber nada acerca do que seria a Biblioteconomia, falei à funcionária da pró-Reitoria de Graduação: quero Biblioteconomia. Fiz a matrícula e, a partir daí, sacramentei um enlace às cegas que foi, com o passar do tempo, sendo construído em meio a muito carinho, paixão, decepção, negações e aceitações.

4. Que disciplina mais gostava quando era estudante?

Senti e ainda sinto um enorme apreço pela disciplina de Introdução à Biblioteconomia. Ministrada pelo Prof. Dr. Rubem Ferro, de maneira magistral, esta disciplina fez-me compreender o universo de atuação do bibliotecário e as diversas nuances do campo. Ministrada pela Profa. Aurora Almeida, a disciplina de História do Livro e das Bibliotecas fez-me transitar por caminhos nunca antes experimentados. Foi divino e maravilhoso. Ela me cativou. Me tomou de uma forma superinteressante. Entretanto, não me arrebatou tanto quanto aquela que, a meu ver, é o norte de atuação do profissional bibliotecário: Estudo da Comunidade e do Usuário. Posso dizer que essa foi a que eu mais gostei. Arrebatou-me. Fez-me transcender. Ministrada pela Profa. MsC Sônia Martins, levou-me a compreender a razão de ser da informação e de seus recursos de disseminação. Deu-me a oportunidade de entender que o “outro”, enquanto fonte inesgotável de informação, denuncia a impossibilidade de dicotomização entre o conhecimento e seu registro.

5. Que tipo de biblioteca tem mais afinidade (escolar, pública, universitária, especializada, etc).

Gosto muito de trabalhar com a informação seja ela verbal ou não verbal. Agrada-me, sobremaneira, perceber os tons e matizes de uma informação e os seus significados para uma determinada audiência. Durante um tempo a biblioteca especializada me atraiu de maneira avassaladora. Dava-me “tesão” desenvolver atividades com informação em uma empresa, instituição pública ou privada. A biblioteca universitária exercia um intenso fascínio sobre meu ser bibliotecário. Trabalhar com pesquisadores e acadêmicos das mais diversas áreas do conhecimento era a possibilidade de estar sempre perto da ciência e de seu processo de produção e disseminação. Entretanto, devo confessar que a biblioteca pública e a escolar são a razão de ser da minha existência profissional e, porque não dizer, pessoal. A biblioteca escolar carrega, em si, a possibilidade de perceber e entender o universo escolar e suas nuances. Os recursos informacionais que aí se desenvolvem e com os quais se trabalha na disseminação da informação, agem em um contexto de complementaridade no processo de escolarização. Por sua vez, a biblioteca pública traz, em seu bojo, a possibilidade de compreender a informação e o conhecimento para além dos muros da escola. É por meio dela, também, que a educação não formal/não escolarizada se faz perceber. É com esta que eu mais me identifico.

6. Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional.

Costumo dizer que minha trajetória profissional é marcada por encontros e desencontros; chegadas e partidas. Espero que entendam o que eu quero dizer. Minha primeira experiência como profissional bibliotecário aconteceu em 1998, na biblioteca do Serviço Social do Comércio (SESC), na regional de Caxias-MA. Foi uma tarefa instigante e desafiadora. Como eu cresci! Desenvolvia atividades no interior da biblioteca, como por exemplo, no auxílio às buscas de informação para o público que era formado por comerciários, seus dependentes, alunos de diversas escolas da cidade (era uma biblioteca pública) e toda e qualquer pessoa que nos procurássemos para pedidos de informação; elaboração de projetos a serem executados com os comerciários e em comunidades da periferia da cidade. Em relação a esta atividade, lembro-me de como era interessante trabalhar com o Projeto Mala da Leitura. Era um microprojeto que fazia parte de um Programa da Instituição, de caráter multidisciplinar, que envolvia todos os setores da instituição. Médicos, educadores físicos, assistentes sociais, arte-educadores e, claro, eu, o sujeito bibliotecário. Minha participação nesse projeto consistia, pois, em trabalhar com a hora do conto. Eu lia com e para as crianças. A partir das leituras das estórias os pequeninos recriavam suas próprias histórias e, assim, sentíamos que estava sendo plantada, alí, uma semente que germinaria e, assim, brotaria um futuro leitor. De todas as experiências vividas, essa foi, talvez, a mais surpreendente. Uma segunda experiência como bibliotecário deu-se no Tribunal de Contas do Estado do Maranhão (TCE). Trabalhei por um período curto na biblioteca, mas, na verdade, dediquei maior tempo à função de Técnico em Arquivo. Foram três anos de muito aprendizado. Paralelo a essas atividades, eu desempenhava a função de professor no magistério superior em faculdades particulares da cidade de São Luis (2004-2006) e, também, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e, na época, no Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET), no cargo de professor substituto e colaborador, respectivamente. Na UFMA, trabalhei como docente do Curso de Biblioteconomia no período de 1997 a 1999. No CEFET, ministrava aulas de Metodologia da Pesquisa e Metodologia Científica em cursos de licenciatura, no período de 2000 a 2004. No ano de 2006 fui aprovado, em concurso público, para o cargo de professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), no Campus Torquato Neto, em Teresina, para desempenhar a função docente no Curso de Biblioteconomia. Fui coordenador do curso por duas vezes. No ano de 2009 entrei com em pedido de vacância, nesta Instituição de Ensino Superior (IES), para assumir a vaga de professor na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), no curso de Biblioteconomia, conquistada por meio de concurso público, onde permaneci até o ano de 2012. A adaptação não foi muito fácil; não por causa da cidade ou do local de trabalho. A cidade de Manaus é espetacular. A UFAM dava boas condições de trabalho, apesar de alguns entraves burocráticos. Mesmo diante deste quadro, a distância da família falou mais alto. Voltei para Teresina e reassumi o cargo de professor na UESPI onde estou até hoje. Vivi momentos muito felizes na UFAM. Aprendi muito. Conheci pessoas incríveis; alunos maravilhosos; colegas espetaculares. Toda essa convivência foi e tem sido importante para meu crescimento profissional. Me abasteço nela e para ela direciono toda a minha atenção na certeza de que, chegando ou partindo, ficam as marcas de um processo formativo onde ensinar e aprender constituem uma via de duplo sentido em que os contrários e os diferentes são indispensáveis para a construção da trajetória.

7. Que conselho daria para uma pessoa que deseja seguir a carreira bibliotecária?

Seguir uma carreira não é tarefa das mais fáceis. Muitos obstáculos surgem durante o percurso. As dificuldades apresentadas no cotidiano dos fazeres e saberes de uma profissão precisam ser entendidas, acima de tudo, como o combustível para a caminhada. Acredito na possibilidade da porção humana que há em nós. É ela que pode fazer a diferença. É por meio dela que podemos ver as portas da oportunidade sendo abertas. Antes de qualquer coisa, penso que todo bibliotecário precisa, efetivamente, “preservar o cunho humanista da profissão”. Para isso, faz-se necessário permitir-se ser humano; completamente humano e, nesse sentido, compreender o sentido da existência do “outro” no processo de construção coletiva do fazer educativo. Completaria dizendo que, nesse contexto, o bibliotecário precisa estar sempre sensível àquilo que o envolve. Aquilo que está em seu entorno.

8. Em que momento você desmistificou o fazer bibliotecário, haja vista que a maioria das pessoas ingressa na universidade acreditando que o ambiente de trabalho está condicionado somente a livros e espaços de bibliotecas?

Penso que essa desmistificação aconteceu na interface do Ser bibliotecário-professor. Não consigo dicotomizar o Ser bibliotecário e o Ser professor; a relação aqui não é de superioridade de um em detrimento do outro; é de complementaridade. O Ser bibliotecário levou-me ao entendimento de que ensinar e conduzir um aprendizado é movimento que depende de recursos informacionais e de um bom manejo das ferramentas de pesquisa. Por outro lado, o Ser professor conduziu-me à compreensão de que o fazer voltado para si mesmo é vazio e descontextualizado. O fazer genuíno não pode estar desvinculado de um movimento crítico-reflexivo. Foi assim que compreendi que não é apenas no livro e no espaço físico das bibliotecas que o conhecimento encontra morada. Há outras possibilidades...outros caminhos...outras trilhas...Para percebê-los, basta lançarmos um olhar curioso e investigativo sobre eles. Precisamos nos permitir olhar além!

9. Você acha que uma pessoa que escolhe essa profissão tem que gostar de ler? Justifique sua resposta.

Sim. Leitura é fundamental. E isso não é prerrogativa do fazer biblioteconômico. Qualquer profissional precisa apresentar níveis satisfatórios de entendimento do mundo a sua volta. Boas doses de conhecimentos gerais e específicos formam a competência política e a formal do profissional da informação. Bibliotecário que não dialoga com a realidade não possui elementos para nela interferir. Sem leitura, isso é impossível.

10. Qual a biblioteca mais fantástica que já visitou e a que sonha ainda conhecer?

O Real Gabinete Português de Leitura, localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro, causou-me admiração. É magnífico!. Visitá-lo, pela primeira vez, era como se minha “alma se cobrisse de um luxo radioso de sensações” (Eça de Queiroz cabe perfeitamente nesse momento). Por ser tão suntuoso, encantou-me delicadamente. Por ser tão grandioso, no que se refere à história que ele preserva, parecia “que eu entrava, enfim, numa existência superiormente interessante” (e, mais uma vez, Eça de Queiroz presente nas minhas impressões). Gosto muito desse lugar!. Pretendo ainda conhecer bibliotecas instigantes e tão encantadoras quanto a do Real Gabinete Português de leitura. Sonho muito em conhecer a Biblioteca do Congresso dos EUA. Faz parte do meu imaginário acadêmico...

11. Dentre os tantos livros que você já leu, cite um e recomende.

Através do Espelho, de Jostein Gaarder. Super recomendo!!!

12. Qual sua opinião sobre o contexto atual da profissão?

Acredito que a Biblioteconomia tem se reconfigurado bastante. O advento da computação e, consequentemente, suas aplicações, desencadearam, no campo biblioteconômico, um processo de reconfiguração sem tamanho. Os mecanismos de representações temática e descritiva do conhecimento vêm passando por avanços significativos no quadro da recuperação informacional. A seleção de informações e documentos também tem vivido momentos intensos de reestruturação, tendo em vista a variedade de fontes que possibilitam, ao profissional da informação, identificar, localizar e recuperar dados, informações e documentos de maneira mais rápida e com maior qualidade. A comunicação entre os profissionais e entre estes e os usuários têm tomado um rumo nunca antes imaginado. O tempo de pergunta e de resposta se tornou mais curto e a possibilidade de feedback também aumentou em quantidade e qualidade. A construção desse novo cenário tem exigido, obviamente, profissionais mais e melhor preparados para lidar com o mundo da informação, o mundo do usuário e, por conseguinte, com a relação intrínseca ao processo, isto é, bibliotecário-informação-usuário-conhecimento.

13. Como você vê a atuação da biblioteca pública de sua cidade? 

Sabemos que tudo é ou pode vir a ser fruto de uma conquista; uma luta diária por aceitação e acolhimento. Vejo a Biblioteca Pública inserida nesse contexto. Não acredito na “qualidade total”. Prefiro dá crédito às conquistas cotidianas que se alicerçam na construção coletiva. Em Teresina-PI, a biblioteca pública tem lutado intensamente por uma constituição de espaços efetivamente democráticos de acesso e uso da informação e sua possibilidade de transformação em conhecimento.

14. Há algum bibliotecário (a) que você considera fora de série?

No decorrer de minha trajetória profissional tive a oportunidade de conhecer alguns profissionais de grande competência e que amam o que fazem. Como exemplo, posso citar Soraia Magalhães, Rosana Dutra, Creusa Sales dentre outros. Também gostaria de citar a bibliotecária e professora do Curso de Biblioteconomia da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Patrícia Gómez de Matos. Ela é uma bibliotecária fora de série. É um espetáculo!!!

15. Do que mais gosta na sua profissão? 

De lidar com “o outro”. Gosto daquele “outro” que me faz perceber que o mundo apresenta “outras” possibilidades. Gosto muito de ouvir, ver, sentir e perceber o que o “outro” percebe, sente, vê e ouve. A Biblioteconomia, pra mim, é isso: um campo de desencontros e partidas que só pode existir no encontro com o “outro” que chega com suas idiossincrasias em um movimento dialético em que a informação é o elo.

16. Fique a vontade para fazer seus comentários finais.

Gratidão. Penso que seja essa a palavra que representa e expressa o resultado das provocações que suscitaram essa maiêutica desenfreada. Fico feliz em poder manifestar, por meio da palavra, esse elemento tão forte e, portanto, tão poderoso, um pouco de minhas experiências e vivências no campo da Biblioteconomia. Agradeço por provocar, em mim, ao mesmo tempo em que escrevo, um movimento reflexivo dos componentes que formam a interseção entre minhas experiências e vivências pessoais e profissionais que marcam um pouco de minha trajetória de vida. Obrigado!


Foto: Acervo pessoal de Mirleno Lívio

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