ECLIPSE DE UMA PAIXÃO E A BIBLIOTECA NACIONAL DA FRANÇA


O filme Eclipse de uma paixão (Total Eclipse) narra o envolvimento entre os poetas Arthur Rimbaud e Paul Verlane na França do século XIX. O filme, dirigido pela polonesa Agnieszka Holland, foi lançado em 1995 e traz as belíssimas interpretações de Leonardo DiCaprio e David Thewlis.


O roteiro foi produzido a partir de informações extraída de cartas e poemas trocados na época de convivência entre os poetas. A trama tem início com o encontro entre a irmã de Arthur Rimbaud e Paul Verlaine, que envelhecido relembra a relação vivida com Rimbaud, quando este ainda adolescente lhe enviou uma carta apresentando sua poesia.

Verlaine, era casado e vivia com sua mulher (grávida) e os sogros em Paris. Com a chegada de Rimbaud as relações familiares ficam estremecidas, enquanto a amizade entre ambos se fortalece em meio aos encontros boêmios regados a absinto, sexo e discussões calorosas. Anos mais tarde, em uma briga Verlaine atira em Rimbaud, sendo condenado a dois anos de prisão, enquanto Rimbaud segue para a África...


No contraponto com momentos de violência, inclusive contra sua mulher grávida,  a esposa de Verlaine, há um tratamento de doçura em torno da personalidade poética de ambos. Os beijos e as cenas de amor e sexo são de uma delicadeza admirável.


O filme é  belíssimo e acho incrível não ter recebido tanta publicidade. De minha parte, contudo o que me motivou a escrever essas linhas foi ter identificado duas cenas do belo Dicaprio no interior da Biblioteca Nacional da França. É válido destacar que a importância das cenas vão além do fato da sua presença na biblioteca, mas sim pelo efeito dramático.

Na primeira, a câmera faz uma tomada da biblioteca, percorrendo as mesas com seus lustres tão característicos...em dado momento, destaca Rimbaud e sua angústia diante de uma folha quase em branco. As palavras não vem...


Eclipse de uma paixão tem cenas memoráveis. Várias delas, de amor entre Arthur Rimbaud e Paul Verlane, contudo talvez por meu grande interesse por bibliotecas, marcou absolutamente o momento em que em total desespero,  Rimbaud evoca um grito de frustração com toda sua força no interior da biblioteca. 

 
O cinema pode ser elemento de motivação para a curiosidade e o aprendizado. Terminado o filme, pesquisei um pouco mais sobre a vida destes poetas, por isso para encerrar esse post deixo um dos poemas de Arthur Rimbaud, ao qual achei admirável.


Canção da Torre Mais Alta

Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora.

Eu disse a mim: cessa,
Que eu não te veja:
Nenhuma promessa
De rara beleza.
E vá sem martírio
Ao doce exílio.

Foi tão longa a espera
Que eu não olvido.
O terror, fera,
Aos céus dedico.
E uma sede estranha
Corrói-me as entranhas.
Assim os Prados
Vastos, floridos
De mirra e nardo
Vão esquecidos
Na viagem tosca
De cem feias moscas.

Ah! A viuvagem
Sem quem as ame
Só têm a imagem
Da Notre-Dame!
Será a prece pia
À Virgem Maria?

Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora!

Arthur Rimbaud

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