TIAGO MURAKAMI: PROFISSÃO: BIBLIOTECÁRIO
Tiago Murakami faz parte dessa moçada jovem que traz o brilho nos olhos quando fala de Biblioteconomia. Diretor da Biblioteca Pública Municipal Manuel Bandeira, em São Bernardo do Campo, SP, periodicamente vem sendo convidado para ministrar palestras sobre bibliotecas públicas e outras temáticas correlatas. Tive a oportunidade de conhecê-lo durante o XXIV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação realizado em Maceió, em 2011 e depois no Bibliocamp, no RJ. Há pouco tempo nos encontramos no 5° Seminário Internacional de Bibliotecas Públicas e Comunitárias, em São Paulo e foi nesse momento que pudemos travar uma conversa mais ampla sobre Biblioteconomia, bibliotecas e outros. Na oportunidade, Tiago posou com a camisa do Movimento ABRE BIBLIOTECA e assim como outros colegas bibliotecários tem apoiado essa causa!
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Eu nasci, cresci e estudei no mesmo bairro: O Jardim Bonfiglioli. Um bairro calmo ao lado da Cidade Universitária (USP Campus Butantã) em São Paulo. Sempre tive livros em casa, muitos, graças ao Circulo do Livro que minha mãe comprava. Ter livros ajuda e como sempre fui curioso, li todos. Mas não acredito que poderia ser considerado um leitor ávido. Comecei a ler mais durante a faculdade, no momento que você começa a conhecer o tamanho do seu desconhecimento.
2. Quando você teve acesso a uma biblioteca pela primeira vez?
O meu bairro ganhou uma biblioteca pública municipal em 1988, quando eu tinha sete anos. A partir do momento que conseguia ir sozinho, foram muitas as vezes que visitei a biblioteca. E foram muitas que vezes em que fui expulso por fazer bagunça...Mas lembro com bastante carinho desse tempo.
3. O que lhe motivou a fazer Biblioteconomia?
Escolhi o curso de Biblioteconomia lendo o manual do candidato do vestibular da Fuvest. O manual indicava que era possível trabalhar na promissora área de organização da informação na Internet. Me encantei, mas confesso que nunca trabalhei diretamente com esse segmento, ainda.
4. Que disciplina mais gostava quando era estudante?
Tive durante a graduação mais afinidade com professores do que exatamente com disciplinas. Tive grandes professores, não citarei os nomes, pois corro o risco de esquecer algum e cometer uma injustiça. Fiz seis anos de curso e só me formei por que precisava, senão teria ficado mais um tempo na Universidade aproveitando tudo o que ela tinha para oferecer.
5. Que tipo de biblioteca tem mais afinidade (escolar, pública, universitária, especializada, etc).
Tenho mais afinidade com bibliotecas especializadas, mas atualmente me encanta muito a complexidade das bibliotecas públicas.
6. Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional.
Não é relacionado a área, mas acho importante citar que trabalhei durante 4 anos no Mc Donalds. Influenciou bastante o modo que vejo o mercado de trabalho. E depois passei por um momento curioso: Pedi demissão do Mc Donalds numa terça-feira durante a semana de integração na faculdade, que tinha acabado de passar, e já na sexta-feira um grande amigo me chamou para fazer uma entrevista no escritório de advocacia onde ele trabalhava e que estavam precisando de um estagiário de biblioteconomia. Fui trabalhar na segunda-feira de manhã e a noite fui ver a minha primeira aula.
Três meses depois me tornei Auxiliar Administrativo na Renegociação de Crédito do Banco Itaú e 1 ano depois, em um processo admissional interno, me transferi para a Biblioteca Jurídica do Banco, onde fiquei por 6 anos como Assistente Administrativo. Aprendi muito com a bibliotecária Marialva Busche Rodrigues.
Sai do banco ao passar no concurso para a Prefeitura de São Paulo e fui trabalhar no CEU Butantã, minha primeira biblioteca pública (que é hibrida pública e escolar). Foi evidentemente um choque para quem estava acostumado a trabalhar em uma biblioteca especializada privada. Mas tive uma grande chefe, Alzira Regina Ferreira, que me ensinou muito sobre a importância da biblioteca pública na sociedade e na Administração municipal.
E por último, fui convidado a assumir o cargo que estou, o de Diretor de Biblioteca na Biblioteca Pública Municipal Manuel Bandeira da Prefeitura do Município de São Bernardo do Campo. Uma biblioteca ramal no município.
7. Que conselho daria para uma pessoa que deseja seguir a carreira bibliotecária?
O lado rico da profissão é a possibilidade de conhecer pessoas. Sejam usuários das bibliotecas, sejam nossos colegas de trabalho, é sempre uma experiência muito rica trocar conhecimentos com pessoas. E essencial para quem deseja fazer uma carreira na área.
8. Do que mais gosta na sua profissão?
Sempre me encantei por organizar grandes quantidades de dados, tornando-os mais fáceis de manipular e podendo extrair deles conhecimento prático. O foco final é sempre o uso. Mas o caminho e as escolhas que fazemos durante a organização são encantadoras.
9. Você acha que uma pessoa que escolhe essa profissão tem que gostar de ler? Justifique sua resposta.
Ajuda bastante. Usar a ideia de TER que gostar como uma obrigação é um erro, a pessoa tem que gostar de gente. Mas numa profissão que você é sempre intermediário, ter uma bagagem cultural e saber o contexto das informações com a qual você trabalha é fundamental para executar um bom trabalho.
10. Qual a biblioteca mais fantástica que já visitou?
Existem grandes e bonitas bibliotecas que já visitei, mas escolheria a Biblioteca Parque de Manguinhos pela sua relevância. É uma biblioteca projetada para a comunidade que está inserida.
11. Dentre os tantos livros que você já leu, cite um e recomende.
É até chato não citar uma literatura, mas um autor que me marcou muito é o Richard Sennett e eu citaria o livro “A nova cultura do capitalismo”. O Sennett tem uma sensibilidade incrível para abordar questões atuais e consegue fazer análises muito claras sobre algumas coisas que nos angustiam. Recomendo.
12. Qual sua opinião sobre o contexto atual da profissão?
Nunca estivemos tanto em evidência quanto agora. Acredito bastante no potencial da área. Faltam pessoas e uma maior unidade. Mas como isso é uma utopia, pelo menos estão aparecendo iniciativas de engajamento pró profissão que acredito que darão bons frutos num futuro próximo.
13. Como você vê a atuação da biblioteca pública de sua cidade?
A realidade das bibliotecas públicas em todas as cidades, não só na minha, é ainda estar distante do total da população. Atingimos apenas uma parte que as frequentam e gostam. Ainda temos um caminho longo para ampliar o nosso alcance social e consequentemente ajudarmos a construir uma sociedade mais completa.
14. Há algum bibliotecário (a) que você considera fora de série?
Muitos. Tive a oportunidade de conviver profissionalmente com alguns, dentre as quais eu citaria a Marialva Busche Rodrigues e Alzira Regina Ferreira. E ainda admiro muitos de longe, como: Edson Nery da Fonseca, Briquet de Lemos, Maria Christina Barbosa Almeida, Johanna Smit, Sueli Mara Ferreira e tantos muitos outros que posso acabar cometendo uma injustiça de não citar todos.
15. Fique a vontade para fazer seus comentários finais.
Gostaria de agradecer a oportunidade dada pelo Blog para contar um pouco de minha relação com a Biblioteconomia e convido os leitores a visitar o blog que eu participo: Bibliotecários sem Fronteiras ( http://bsf.org.br ) e o Repositórios de trabalhos acadêmicos que eu mantenho: RABCI ( http://rabci.org )
Foto: Soraia Magalhães
Amei a entrevista, gosto demais do Murakami, também o conheci em Maceió e o pouco que o conheço já me acrescentou muito, parabéns! abração.. Geyse de Carvalho.
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