MARY KOMATSU: PROFISSÃO BIBLIOTECÁRIA

 

Gosto muito do quadro Bibliotecárias Fora de Séria e fico super satisfeita por poder fechar esse ano de 2023 apresentando a entrevista da querida Mary Komatsu, Bibliotecária muito ativa e apaixonada por seu trabalho no canal Caçadora de Ex-líbris. Mary trabalhou por muitos anos no Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro e faz parte da diretoria da Rede de Bibliotecas e Centros de Informação em Arte – REDARTE/RJ. Nos conhecemos primeiramente pelas redes sociais e tenho o maior carinho pelo nosso encontro realizado ao Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, em 2016, quando me apresentou sua Biblioteca. Nossa parceria já vem de outras ações, pois ela também é uma caçadora de bibliotecas e apresentou suas aventuras nesses espaços também aqui no blog, veja aqui, aqui e aqui.

A Mary Komatsu é uma Bibliotecária inspiradora, ainda que hoje se apresente como Bibliotecária aposentada, ela segue fazendo bonito na profissão. Para conhecê-la um pouco mais, leia aqui sua entrevista:


1. Conte-nos onde nasceu, cresceu e como foi a sua relação com a leitura nos primeiros anos.

Nasci na cidade de Niterói, RJ. Sou descendente de japoneses, além dos meus pais tenho uma irmã mais nova. Apesar de ter nascido em Niterói, passei boa parte da minha infância e adolescência na cidade de São Gonçalo por conta do meu pai que teve um derrame cerebral e não tinha mais condições de trabalhar. Apesar de todas as dificuldades, foi um tempo feliz.

O meu primeiro contato com a leitura de fato, foi aos 12 anos de idade em uma escola pública, o Instituto Clélia Nanci. Nesta escola tinha uma atividade de leitura semanalmente na biblioteca. Foi quando comecei a tomar gosto pelas histórias e pelos livros. Gostei tanto que pedia para a minha mãe comprar os livros para que eu pudesse terminar a leitura. Os livros que marcaram minhas primeiras leitura foram: "A Ilha Perdida", "Éramos Seis", "Jane Eyre", "A volta ao mundo em 80 dias", "O Cortiço", "A Moreninha", "Memória Póstuma de Brás Cubas", etc. Este livros fizeram parte da minha infância e adolescência.

2. O que lhe motivou a escolher o curso de Biblioteconomia?

Eu nunca pensei em fazer Biblioteconomia. A princípio pensava em fazer o curso de Belas Artes ou de Educação Física. Eu amava desenhar e pintar, mas na época falaram que o curso era mais para ser professora, então desisti. Quanto ao curso de Educação Física não foi possível por questão de saúde. Fiquei sem ideia de qual curso faria na faculdade. Então por acaso que tomei conhecimento do curso de Biblioteconomia quando li um artigo na revista Claudia intitulado assim “Biblioteconomia a profissão do futuro”. Fiquei tão encantada pela matéria que não pensei duas vezes, me inscrevi no vestibular da Cesgranrio para concorrer ao curso de Biblioteconomia. E para a minha surpresa passei no vestibular para a Universidade Federal Fluminense, em Niterói. Foi um dos dias mais felizes da minha vida!

3. Que disciplina mais gostava quando era estudante?

Eu gostava de todas as disciplinas mas eu tinha identificação maior com a disciplina de Referência, que era mais voltada para o serviço de referência e atendimento ao pesquisador.

4. Qual tipologia de biblioteca teve mais afinidade (escolar, pública, universitária, especializada, etc)

Infelizmente não tive muitas oportunidades de trabalhar em tantas bibliotecas. Fiz apenas estágio em uma biblioteca universitária e especializada. Mas não dá para negar que tenho mais afinidade com bibliotecas de artes.

5. Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional e em especial sobre sua atuação voltada para bibliotecas de Artes.

Quando fiz o curso de biblioteconomia, fiz diversos estágios, mas o local que mais encantou foi o Museu Nacional de Belas Artes. Consegui me efetivar lá e foi um dos momentos mais feliz da minha vida. Durante esse período profissional até a minha aposentadoria, fiz diversos trabalhos para a organização do acervo, com a revitalização dos espaços, informatização (na época não existia computadores e nem internet). Além de realizar intercâmbio com outras instituições e pesquisas com o público pesquisador para divulgar os serviços da Biblioteca.

6. Que conselho daria para uma pessoa que deseja seguir a carreira bibliotecária?


Recomendo aqueles que queiram ingressar na carreira da biblioteconomia, procure se informar e também saber se tem afinidades e habilidades para exercer a profissão.

7. Em que momento você desmistificou o fazer bibliotecário, haja vista que a maioria das pessoas ingressa na universidade acreditando que o ambiente de trabalho está condicionado somente a livros e espaços de bibliotecas?

Naquela época (década de 80) eu achava que a profissão de bibliotecário era de fato condicionado a trabalhar com livros e atendimento a pesquisa. Durante um bom tempo trabalhei assim. Mas com o tempo participei de atividades extras como eventos e que me despertava outros interesses na profissão. Na década de 90, fui convidada para participar da REDARTE/RJ, uma rede de bibliotecas de arte, e foi a partir daí que comecei a ter outro olhar sobre a nossa profissão. Tive a experiência de oficializar a rede, organizar diversos eventos, ter outros saberes. Foi uma grande escola na minha vida.

8. Você acha que uma pessoa que escolhe essa profissão tem que gostar de ler? Justifique sua resposta

Claro que sim! Tem que gostar de leitura e de gente.

9. Conte-nos sobre seu projeto Caçadora de Ex-Líbris!

Quando fiz a curadoria da narrativa virtual sobre Ex-líbris intitulado "Dos Livros: Ex-líbris nas coleções do MNBA" para o Projeto Google Art do MNBA, me encantei com os ex-líbris. A partir daí, comecei a trabalhar intensamente com os livros da Biblioteca que possuia essa marca de propriedade e pesquisar mais sobre o assunto. Participei do "Projeto A Eloquência dos Livros: Marcas de Proveniência Bibliográfica" onde tive a oportunidade de conhecer outras pesquisas e trabalhos. Em 2018 abri despretensiosamente o canal da Caçadora de Ex-líbris no instagrarm para registrar as minhas descobertas. E em 2020 no auge da pandemia, comecei uma série de lives no canal do Youtube trazendo convidados para falar sobre essa arte em miniatura. Além disso, elaborei um website (www.cacadoradeexlibris.com) onde tento reunir informações sobre a arte e pesquisas sobre o ex-líbris no Brasil. São 3 anos em atividade que ampliou o meu olhar sobre o valor do ex-librismo e resultou também na criação de grupo de ex-librista, o Grupo Ex-líbris Brasil – GELB.

10. Qual a biblioteca mais fantástica que já visitou e a que sonha ainda conhecer?

Não conheço tantas bibliotecas, mas as que conheci sempre tem alguma coisa interessante. Espero ainda sair pelo mundo viajando e explorando as bibliotecas mais importantes.

11. Dentre os livros que você já leu, cite um e recomende.

Eu sou muito eclética com as minhas leituras pessoais. Gosto de livros de auto-ajuda, gosto de ler biografias, história do Brasil e livros técnicos. Atualmente tenho lido diversos livros que envolvem sobre a história do ex-librismo para os meus estudos no meu canal.

12. Qual sua opinião sobre o contexto atual da profissão?

Nestes últimos 20 anos houve uma grande mudança no perfil do bibliotecário e na sua forma de atuação. Os serviços digitais e as redes sociais proporcionaram maior acessibilidade aos acervos e pesquisa. E com a pandemia, este profissional foi obrigado a se adaptar a uma nova realidade digital e também a aprender lidar com as novas tecnologias.

13. Como você vê a atuação da biblioteca pública de sua cidade? 

Em Niterói onde eu resido há somente 01 biblioteca pública, conhecida como Biblioteca Parque de Niterói. Há outras pequenas bibliotecas municipais, de escolas, universitárias e de museus. Ainda há muito para se promover no hábito à leitura e pesquisa nesses espaços.

14. Do que mais gosta na sua profissão?

Gosto de conhecer novidades na área que possa colaborar nas pesquisas. Principalmente de participar e organizar eventos e conhecer novas experiências profissionais.

15. Há alguma bibliotecária (o) que você considera fora de série?

Conheço diversas bibliotecárias e bibliotecários fora de série que me ajudaram em determinados momentos da minha vida profissional. A lista é enorme! Todos competentes e comprometidos com sua missão. Destaco alguns: diversos colegas da REDARTE/RJ, a Daniela Spudeit, o Agenor Briquet de Lemos, a diva da biblioteca de obras raras Ana Virginia Pinheiro, Chico de Paula (in memorium), a querida Eliane Vieira da Silva do Museu Histórico, e você Soraia Magalhães.

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